quarta-feira, 21 de abril de 2010

Fado tropical





Podem me chamar de brega, mas  amo essa do Chico...
Oh, musa do meu fado 


Oh, minha mãe gentil 
Te deixo consternado 
No primeiro abril 
Mas não sê tão ingrata 
Não esquece quem te amou 
E em tua densa mata 
Se perdeu e se encontrou 
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal 
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal 

"Sabe, no fundo eu sou um sentimental 
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose 
de lirismo...(além da 
sífilis, é claro)* 
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em 
torturar, esganar, trucidar 
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora..." 

Com avencas na caatinga 
Alecrins no canavial 
Licores na moringa 
Um vinho tropical 
E a linda mulata 
Com rendas do Alentejo 
De quem numa bravata 
Arrebato um beijo 
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal 
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal 

"Meu coração tem um sereno jeito 
E as minhas mãos o golpe duro e presto 
De tal maneira que, depois de feito 
Desencontrado, eu mesmo me contesto 

Se trago as mãos distantes do meu peito 
É que há distância entre intenção e gesto 
E se o meu coração nas mãos estreito 
Me assombra a súbita impressão de incesto 

Quando me encontro no calor da luta 
Ostento a aguda empunhadora à proa 
Mas o meu peito se desabotoa 

E se a sentença se anuncia bruta 
Mais que depressa a mão cega executa 
Pois que senão o coração perdoa..." 

Guitarras e sanfonas 
Jasmins, coqueiros, fontes 
Sardinhas, mandioca 
Num suave azulejo 
E o rio Amazonas 
Que corre Trás-os-Montes 
E numa pororoca 
Deságua no Tejo 
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal 
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal 
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal 
Ainda vai tornar-se um império colonial 

* trecho original, vetado pela censura 








0 comentários: