segunda-feira, 17 de maio de 2010

KLIMT




Gustav Klimt (Baumgarten, Viena, 14 de julho de 1862 — Viena, 6 de fevereiro de 1918) foi um pintor simbolista austríaco.
Em 1876 estudou desenho ornamental na Escola de Artes Decorativas. Associado ao simbolismo, destacou-se dentro do movimento Art nouveau austríaco e foi um dos fundadores do movimento da Secessão de Viena, que recusava a tradição académica nas artes, e do seu jornal, Ver Sacrum. Klimt foi também membro honorário das universidades de Munique e Viena. Os seus maiores trabalhos incluem pinturas, murais, esboços e outros objetos de arte, muitos dos quais estão em exposição na Galeria da Secessão de Viena.

Klimt foi o segundo dos sete filhos de Ernst Klimt (1832-1892), gravador de profissão, pertencente a uma família de agricultores da Boêmia, e de Anna (Flinster) Klimt (1836-1915), natural de Viena. Seus irmãos eram Klara (1860-1937), Ernst (1864-1892), Hermine (1865-1938), Georg (1867-1931), Anna (1869-1874) e Johanna (1873-1950).[1]

Após concluir os estudos na “Escola Primária do VII bairro vienense”, Klimt é admitido, aos 14 anos, na "Escola das Artes Decorativas", ligada ao "Museu Austríaco Imperial e Real de Arte e Indústria de Viena",[2] onde foi aluno de Michael Rieser, Ludwig Minnigerode e Karl Hrachowina. Klimt adquiriu a prática de desenho ornamental, além de cursos sobre a teoria de projeções, perspectiva, teoria do estilo e outros temas que acompanhavam as aulas práticas. Em seguida, freqüentou a aula especializada de pintura de Ferdinand Laufberger e, após a morte deste (1881), a de Julius Vicktor Berger, ligado a Hans Makart.
Dois dos irmãos de Klimt, Ernst e Georg, realizaram trabalhos para ele e também se formaram na Escola de Artes Decorativas.[3] A formação na pintura e no desenho a partir do "original histórico" e dos "métodos de cópias naturalistas", constituíam, até então, a base do curso. O trabalho de admissão de Klimt na Escola de Artes Decorativas, foi um desenho, segundo um molde de gesso, de uma cabeça feminina da Antiguidade.[1]

 Aluno da Escola das Artes Decorativas, no século XIX, que conseguiu dar início a uma grande carreira artística, impulsionado pelos seus professores e pelo diretor do Museu, Rudolf von Eitelberger. Michael Rieser utilizou seus serviços, bem como o de Franz Matsch (1861-1942) e do seu irmão Ernst, para os vitrais da "Igreja Votiva" – o primeiro grande edifício da "era da Ringstraße".[4]
Klimt, Ernst e Matsch fundaram a Künstlercompagnie (Companhia dos Artistas), aproveitando-se do boom da construção. Através da empresa Fellner und Hellmer, especializada na construção de teatros, a Companhia dos Artistas conseguiu trabalhos.
Mesmo depois de formados, Klimt, Ernst e Matsch, continuaram ligados à Escola. Uma carta dos três dirigida ao diretor do Museu (1884), reforça o desejo de serem contratados para grandes empreendimentos (demonstração de que Klimt tentou afirmar-se no mundo da arte historicista), principalmente na sua cidade natal: "(…) Os trabalhos que até agora realizamos foram… na sua maioria, para a província e o estrangeiro; o nosso maior desejo seria, por conseguinte, executar um trabalho importante na nossa cidade natal e teríamos talvez agora a oportunidade visto que as novas construções monumentais de Viena se aproximam do seu termo. De certo, a sua decoração pictórica vai ser exclusivamente atribuída segundo as partes mais importantes, ocupando, consequentemente, apenas os melhores artistas (…)".[5]
O desejo de trabalhar na Ringstraße foi realizado (1886-1888). A Companhia trabalhou em quadros de tetos das escadarias do Teatro Imperial. Na época, Klimt criou os quadros A Carroça de Téspis, O Teatro do Globo em Londres, O Altar de Dionísio, O Teatro de Taormina e O Altar de Vênus. A decoração das imponentes escadarias do Museu da História da Arte, estava destinada a Hans Makart. Com a sua morte, a Companhia dos Artistas foi contratada para a conclusão: pintura dos quadros dos cantos e dos intercolúnios (espaços de pintura entre as colunas).
As duas obras – a segunda, inicialmente destinada a Hans Makart, deveria se manter fiel ao modelo histórico – confrontaram Klimt com o "optimismo e a crença no progresso da burguesia liberal". Klimt colaborou com a decoração do Teatro Imperial e, também sob encomenda, fez o seu retrato. Em 1887, a Companhia é contratada pela Câmara Municipal de Viena para pintar o interior do antigo Teatro Imperial. Ao final dos trabalhos, Klimt é premiado com a "Cruz de Mérito de Ouro" (1888), pelos seus trabalhos nas escadarias do Teatro Imperial. Foi um momento importante para Klimt. O quadro [6] contribuiu para a obtenção do reconhecimento da sociedade vienense, sem, entretanto, seduzir Klimt a alinhar-se com a elite cultural que se intitulava, pouco antes da virada do século, como a verdadeira responsável pelo progresso material e cultural (Optimismo cultural da burguesia liberal).[1]

Famoso como decorador de grandes edifícios culturais na Ringstraße, Klimt , junto com Matsch, foi encarregado pelo ministro da Educação, von Hartel, de criar os quadros para representar as alegorias das faculdades no salão nobre da universidade reconstruída na Ringstraße. Os quadros confiados à Klimt foram: A Medicina, A Filosofia e A Jurisprudência. Klimt rejeitou o tema desejado para os quadros - "A Vitória da Luz sobre a Obscuridade". Rejeitou a "glorificação das ciências racionais", diferindo, nas três composições, da "pintura histórica" em que ele próprio havia participado alguns anos antes. Coincidentemente, era o início da Secessão e os esboços, que iam pouco a pouco sendo expostos na Associação dos Artistas, provocaram um conflito que durou alguns anos.[7]
A arte de Klimt não pretendia representar o papel racional e otimista da ciência universitária. Membros da faculdade colocaram-se contra os seus esquiços. A princípio, o ministro von Hartel ignorou a reação - protestos dos professores e ataques da imprensa conservadora - porém, a apresentação do projeto de Klimt para o segundo quadro (A Medicina) na "10ª Esposição da Secessão" (1901) reavivou a discussão. A ciência médica não estava ali representada segundo a corporação dos médicos. Nesta fase, Klimt revela a relação existente entre a cultura patriarcal e o elemento feminino, expõe a sua concepção do mundo como "…um protesto, uma contradição do passado, mas também como um projecto do futuro, de uma nova cultura feminina.". Juntamente com a corporação dos médicos, os meios estéticos dirigiam aos quadros de Klimt maldosas críticas contra a representação do nu, chegando a provocar o confisco de um número do Ver Sacrum, onde um projeto de A Medicina tinha sido publicado. O Ministério Público não viu razão para perseguir judicialmente a representação do nu, mas a reação pública com a exposição de A Medicina incomodou o "conselho imperial", que pretendia utilizar a arte como estratégia política. O ministro da educação, von Hartel, "protetor da Secessão", viu-se obrigado a justificar a encomenda do Estado e "…parece ter-se verdadeiramente convencido dessa responsabilidade." A nomeação de Klimt para o cargo de professor na Academia das Artes Decorativas é recusada pela primeira vez. Schorske reputa à recusa a aparência agressiva do terceiro quadro, A Jurisprudência, sobretudo a partir das alterações que Klimt efetuou entre os esquiços e a versão definitiva.
Klimt não pode expor A Jurisprudência na "Exposição Universal de Saint-Louis" (1904) e entendia que a forma de exposição e expressão artísticas não deveriam sofrer imposições. De fato, decide rescindir o contrato de "Os Quadros das Faculdades" (1905). Devolve os honorários ao Estado, readquire os esquiços, sai do "grupo Klimt" da Secessão e vai à Berlim para participar na exposição da "Aliança dos Artistas Alemães". Aí, recebe o "Prémio Villa Romana".
Os quadros A Medicina, A Filosofia e A Jurisprudência foram retomados à força pelo Estado e, por fim, foram queimados na "Baixa Áustria", em maio de 1945, no Castelo de Immendorf que foi incendiado pelas tropas SS em retirada.[1]

Em 1883,com a inauguração do novo edifício da Universidade de Viena, encomendou-se a Gustav Klimt uma série de painéis que descrevessem o triunfo da luz sobre as trevas. Os afrescos deveriam ser alusivos às quatro faculdades: Teologia, Filosofia, Medicina e Jurisprudência. O primeiro painel, representando a Filosofia, foi de certa forma um choque. Em vez da descrição da Escola de Atenas, Platão ou Aristóteles, Klimt influenciado por Schopenhauer, representa o mundo como Vontade, em que os seres vagueiam.

A obra de Klimt passa por fases diferentes: a primeira, é marcada por um carácter histórico-realista, também associada à dualidade de Viena (realidade e ilusão), desta época datam os desenhos para as alegorias "A Escultura" e "A Tragédia" (1896 e 1897).

A sua última grande pintura mural é o Friso Stoclet (1905 a 1909). Adolphe Stoclet, um magnata belga a viver em Viena com a mulher, mandou construir um palácio, deixando-o a cargo do Wiener Werkstatte ("Ateliê Vienense"), no qual se destacavam o arquitecto Josef Hoffmann e Klimt. É aqui que o pintor experimenta uma mudança no estilo, surgem os motivos geométricos repetidos, deixando aparecer apenas algumas partes essenciais realistas, que permitem o seu entendimento. Aqui é usada uma cobertura ao estilo bizantino, bastante cerrada, como mosaicos, onde o realismo e a abstracção se confrontam.
Em "O Beijo" (1907/08), baseado em si mesmo e na sua amante Emilie, a mulher fatal aparece submissa, comunica uma sexualidade latente. "O Beijo" constitui o auge do período dourado e torna-se o emblema da Secessão.
Em "Dánae" (1907/08) a sua provocação afirma-se de modo mais óbvio, junto à figura da mulher ruiva adormecida surge aquilo que muitos interpretam como uma torrente de moedas de ouro e espermatozóides.

Na primeira década do século XX o expressionismo faz com que o estilo dourado de Klimt deixe de ser usado. Em 1909 Klimt parte para Paris onde toma contacto com as obras de Toulouse-Lautrec e com o fauvismo. A partir de então, Klimt passa a usar cenários menos elaborados, deixando de lado os motivos geométricos e a sumptuosidade do ouro. Nesta fase pinta "O Chapéu de Plumas Negras" (1910); "A Vida e a Morte" (1916); "A Virgem" (1913), surgem também pinturas de jardins, paisagens campestres e do Castelo Kammer, que reflectem as influências do cubismo que surgia então. Há a inclusão de elementos naturais (a água, a vegetação), bem como de construções.

As últimas obras de Klimt voltam-se para um lado mais erótico, claramente assumido. No seu atelier passeiam-se sempre algumas modelos nuas que ele observa e vai desenhando. Daí resultam mais de 3000 desenhos. Disso são exemplo os desenhos das suas modelos em poses e atitudes mais intimas: "Mulher sentada com as coxas abertas", "Adão e Eva", "A Noiva"” e "Masturbação feminina ". Na época acusaram Klimt em Ornamentação e Crime do seu exagero erótico. Para Klimt, a ornamentação enriquece o real.

Com a morte da sua mãe em 1915 também a sua paleta se torna mais sombria, e as paisagens tendem para a monocromia. Em 1916 participa na exposição de Bund Österreichischer Kunstler na Secessão de Berlim com Egon Shiele, Kokoschka e Anton Faistauer.

Klimt morreu a 6 de fevereiro de 1918 de apoplexia, uns meses antes do colapso do Império Austro-Húngaro, e foi enterrado no Cemitério de Hietzing (Viena). Ficam por acabar "O retrato de Johanna Staude" e "A noiva".



  1. ↑ a b c d FLIELD, Gottfried; Gustav Klimt (1862-1918) - O Mundo de Aparência Feminina. Editora Taschen. ISBN 3-8228-5208-2.
  2.  Ambas as instituições deviam a sua fundação ao florescimento da política e cultura liberais dos anos 60. Depois do "South Kensington Museum em Londres", o Museu de Arte e Indústria era o principal museu de artes decorativas do continente europeu.
  3.  Artistas que defendiam a "nova teoria" durante o "surto do modernismo" da virada do século, estavam ligados a esta Escola. Até a entrada em vigor da reforma escolar, pelo secessionista "Felician, barão de Myrbach", a Escola era considerada um centro da doutrina historicista da arte.
  4.  Na ocasião, muitos professores da Escola das Artes Decorativas se ocupavam de importantes construções na Ringstraße, onde também estavam localizados o Museu e a Escola.
  5.  Carta de 2 de fevereiro de 1884 para Rudolf von Eitelberger. "citação de:Nebehay, op.cit., 1969, pág. 81."
  6.  Sala dos espectatdores no antigo Teatro Imperial, 1888 (Zuschauerraum in alten Burgstheater). Guache sobre papel, 82x92cm. Viena, Historisches Museum.
  7.  Carl Schorske analisou o "drama" dos quadros projetados por Klimt como uma "crise do Eu liberal do artista" no seio da crise do liberalismo. "Carl Schorske|SCHORSKE, Carl: Wien - Geist und Gesellschaft in Fin-de-siècle. Francoforte (1992)"


A Virgem, 1913 


Óleo sobre tela, 190 x 200 cm 


Praga, Náradni Galery


Com "A Virgem" Gustav Klimt conta uma história: a jovem torna-se mulher, assiste-se ao seu despertar sexual que a levará ate ao êxtase amoroso. As diversas fases são figuradas pelo mesmo ser multiplicado, como em "Sonho", e essas partes do corpo feminino em poses e estados variados, parecem rodopiar num cenário florido como se uma câmara enlouquecida rodasse sobre si própria ao filmar estas cenas oníricas vistas do alto, como desafio à gravidade.



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